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SEXTA-FEIRA, 15 DE AGOSTO

 

9h00 – 10h45, Auditório da Biblioteca

MESA 13: Memória, testemunho e subjetividade

Érica Faleiro Rodrigues (University of London). Lúcia Murat: o pessoal é político - o cinema e a história na primeira pessoa

Pretende-se investigar a obra da cineasta brasileira Lúcia Murat e, através desta, as repercussões de um cinema que revê um momento político recente de extrema violência na história do Brasil. Presa e torturada durante a ditadura, Lúcia Murat realizou, nas últimas três décadas, vários filmes que se debruçam sobre este período traumático da história brasileira, através das revisitação das cicatrizes da sua própria história pessoal. Esta análise pretende contextualizar a originalidade e o relevo do trabalho da cineasta numa perspectiva alargada, mostrando a sua profunda relevância internacional, nas diferenças e semelhanças com o trabalho de outros cineastas que se focam na memória e na histórica recente. O que se pretende averiguar é o papel do cinema como construtor de memórias colectivas, e como o uso de semânticas aparentemente diferentes como o documentário, a ficção e as artes visuais, pode construir a memória visual da realidade histórica recente.

 

Maria Noemi Araújo (Escola Brasileira de Psicanálise). O cinema como testemunho

Envolvendo corpos afetados por violências cometidas pelo Estado, filmes brasileiros recentes trazem a ideia de Testemunho como certa possibilidade de elaboração do trauma. A psicanálise, assim como a arte, e cada uma a seu modo, apresentam alternativas para que o sujeito saia do silêncio, dando outro destino para a sua dor. Assim, a palavra e a criação de diferentes objetos possibilitam a cada sujeito o enfrentamento, a organização e a simbolização do trauma.  O conceito freudiano de repetição nos permitirá discutir os filmes Elena (Petra Costa, 2013) e Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2013) como testemunho de algo da dor, do luto e dos efeitos do trauma produzidos pela Ditadura brasileira. Ao dialogar com as obras dos cineastas Coutinho, Murat e Tapajós, esses filmes ganham estatuto de Testemunho, tal como elaborado por Primo Levi após a Segunda Guerra.

 

Angelita Bogado (UFBA). O papel da dramaturgia na representação da memória no documentário Os dias com ele

O documentário mais recente tem privilegiado as histórias de si. O Eu contemporâneo tem encontrado diversas formas de habitar a escrita cinematográfica com a intenção, muitas vezes, de reencontrar e redesenhar o passado. Buscaremos compreender a relação entre passado e presente, ausência e permanência a partir das memórias de si na obra documental contemporânea. O filme selecionado para este estudo é Os dias com ele de Maria Clara Escobar (2013). A diretora mergulha no passado quase desconhecido de seu pai, Carlos Henrique Escobar, um intelectual e dramaturgo brasileiro, preso e torturado durante a ditadura militar. Pretendemos demonstrar o papel da dramaturgia na representação dessa história fraturada pelo tempo e pela memória. A encenação se apresenta como única possibilidade de representar o jogo memorialístico entre pai e filha. O obstáculo, imposto pelos desvios do tempo e da memória, não se apresenta como um mero adorno, mas sim como um momento extremamente produtivo para a linguagem artística. É nesse movimento de construção e destruição, rememoração e esquecimento que a narrativa de si ergue suas ruínas.

 

Lúcia Monteiro (Paris 3). O falso testemunho e a busca pelo desaparecido: Um tigre de papel, de Luis Ospina (2007)

Com base em depoimentos de cineastas, artistas e intelectuais, Um tigre de papel (2007), do cineasta colombiano Luis Ospina, procura reconstituir o percurso de Pedro Manrique Figueroa que, ex-militante político, ex-hippie, ex-místico, ex-prisioneiro político, desapareceu em 1981, naquele que teria sido seu maior gesto artístico. Formalmente assimilado ao que Jean-Claude Bernardet define como “documentários de busca”, Um Tigre de papel é na realidade um falso documentário – um “mockumentary” ou um “documentira que revela verdades”, de acordo com a expressão de François Niney. O material de arquivo reunido pelo filme é extenso, mas nenhuma imagem revela aquele que seria o rosto do personagem, de modo que seu desaparecimento é efetivo no filme. Ao valer-se do método da colagem, a montagem cria um filme híbrido que questiona a narração histórica e, ao mesmo tempo, interpela a categoria dos documentários de busca.

 

Mediação: Lúcia Monteiro

 

9h00 – 10h45, Salão de Atos

MESA 14: Políticas de fomento ao audiovisual na América Latina

Helyenay Souza Araújo (PUC RJ). Uma proposta de análise do programa Ibermedia a partir dos filmes brasileiros coproduzidos com apoio do fundo entre 2003 e 2013

O fomento à produção cinematográfica em regime de coprodução não é mais novidade e, desde meados da década de 1990, este modelo de realização fílmica tem sido sistematizado de forma mais consistente entre os países do espaço ibero-americano através do Programa Ibermedia. Apesar das controvérsias sobre seu funcionamento, este programa tem tentado cumprir o papel de promover um espaço de interação audiovisual na Iberoamérica, através de ações sinérgicas que busquem alavancar as indústrias cinematográficas da região, tão subordinadas à hegemonia norte-americana no setor. Este artigo tem por objetivo apresentar minha proposta de pesquisa de doutorado que se debruça sobre este tema. O que proponho em meus estudos é buscar avaliar a relação investimento/retorno das coproduções realizadas pelo Ibermedia nos seus últimos dez anos (2003-3013), a partir do estudo de caso das 32 coproduções brasileiras realizadas com apoio do fundo durante esse período. Algumas dessas coproduções foram distribuídas com êxito e alcançaram relativo sucesso de público no Brasil e no exterior.

 

Rosângela Fachel de Medeiros (UFRGS). Cinemas mercosulinos: políticas culturais, desglobalização e identidades

Os mais de vinte anos de existência do MERCOSUL e os, recentemente comemorados, dez anos de atuação da “Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do MERCOSUL” (RECAM) configuram um momento significativo e simbólico para a discussão da importância dos Cinemas Mercosulinos na configuração das identidades culturais da região e para a reflexão acerca dos objetivos, das dificuldades, das conquistas e do porvir destes Cinemas e das Políticas Culturais para o setor. Analisando o potencial do MERCOSUL, para além de entidade política e econômica, em seu potencial de representação cultural como algo que produz sentidos, como uma comunidade simbólica. Esta comunicação apresentará uma breve contextualização das principais questões envolvidas na produção cinematográfica mercosulina: a integração regional; as Políticas Culturais para o setor; a opção pela coprodução; as principais dificuldades do setor e a tensão com a hegemonia hollywoodiana; as quais baseiam e norteiam os objetivos de pesquisa e de atuação acadêmica propostos.

 

Karla Holanda (UFJF). A estética nos filmes do DocTV

O DocTV foi um programa do governo federal que fomentou a produção de documentários no Brasil de maneira descentralizada, garantindo a seleção de projetos em todos os estados do país. O Programa, que funcionou entre 2003 e 2010, tinha a preocupação estética à frente do pensamento que orientou suas diretrizes, subvertendo o caminho mais tradicional das expectativas em torno do documentário que, quando submetidos a editais de fomento, o mais comum é que se exijam dos projetos ampla explanação sobre seu tema, deixando-se em segundo plano descrições sobre aspectos formais. Tanto as oficinas que os realizadores selecionados deveriam frequentar quanto o regulamento do Programa induziam a uma consciência do pensamento estético contemporâneo. Com isso, pretendia-se evitar o convencionalismo nos formatos dos filmes, muitas vezes inspirados nos tradicionais modelos telejornalísticos. Mas, afinal, o que orienta a necessidade dos realizadores com realidades tão diferentes?

 

Mediação: Rosângela Fachel

 

11h00 – 12h45, Auditório da Biblioteca

MESA 15: Cinema político das décadas de 1960 e 1970

Cristina Alvares Beskow (USP). A influência de Frantz Fanon nos manifestos “Estética da Fome” e “Hacia un tercer cine”

Este trabalho tem por objetivo discutir a presença das idéias da obra Os condenados da terra, de Frantz Fanon, em dois manifestos de cineastas que participaram do Nuevo Cine Latinoamericano. O livro, de 1961, que exerceu grande influência sobre a intelectualidade de esquerda do período, aborda a libertação nacional e a descolonização cultural nos países de “terceiro mundo”. Dentre os cineastas influenciados, destacaremos Glauber Rocha e o manifesto “Estética da fome” (1965); e Fernando Solanas e Octavio Getino e o manifesto “Hacia un tercer cine” (1969). Em ambos os casos, as ideias de Fanon são parafraseadas e/ou citadas em defesa de um cinema revolucionário.

 

Guilherme Maggi Savioli (USP). Sem essa, Aranha! e a questão da cultura

Tomando como base algumas ideias contidas no texto “A questão da cultura”, de Rogério Sganzerla, o presente estudo buscará compreender como algumas delas se refletem concretamente, em um filme realizado em uma situação emergencial pelo diretor, Sem essa, Aranha!. Nesse sentido, o eixo principal a servir como guia será o ataque frontal que Sganzerla faz à própria ideia de cultura, associando-a como criação de uma classe social dominante, no caso a mesma que oprime intelectualmente o povo subdesenvolvido. Seu principal conceito no texto, que resume toda essa ideia ofensiva, é o de incêndio universal das formas. Assim, buscar-se-á através desse estudo analisar como o diretor, através de uma série de procedimentos, instaura uma espécie de regime de instabilidade nas representações, almejando uma forma revolucionária, que não só rompe (ou no caso, incendeia) com alguns procedimentos culturalistas e conciliadores de representação – os quais ele identifica com alguns filmes e com a política dos cinemanovistas de então – como também propõe uma nova forma de se olhar (e superar) a condição do colonizado.

 

Pablo da Cunha (UNICAMP). Leon Hirszman e o registro da memória da criação: análise do processo de gênese e da representação do operário em Pedreira de São Diogo (1962)

Esta proposta de apresentação busca realizar uma reflexão sobre o processo de criação fílmica e a representação do operário em Pedreira de São Diogo (1962), do cineasta Leon Hirszman (1937-1987). Utilizando-se dos estudos acadêmicos da Crítica Genética, a pesquisa, sobre este percurso criativo, deu-se a partir da investigação dos arquivos do filme e do diretor, acessíveis, principalmente, na Cinemateca Brasileira (SP) e no Arquivo Edgard Leuenroth – AEL, da Universidade Estadual de Campinas. Analisando as interseções e os paralelos entre os documentos e o filme, o estudo refletiu acerca da(s)representação(ões) do operário e de que forma Hirszman pretendia utilizá-la(s), por meio de sua produção, como forma de conscientização crítica e, consequentemente, mobilização dos trabalhadores.

 

Mediação: Cristina Beskow

 

11h00 – 12h45, Salão de Atos

MESA 16: Cinemas novos e novos cinemas - construindo ideias de América Latina

Cristina de Branco (Universidade Nova de Lisboa). Aproximação ao real maravilhoso no cinema latino-americano contemporâneo

A ideia de América Latina foi inventada e segue sendo continuamente reinventada por várias frentes de agentes institucionais, comunitários e individuais, as indústrias culturais e as academias nacionais e estrangeiras, estratégias sócio-políticas internas e externas, pelas produções culturais locais e por cada latino-americano. Uma das vias de recriação do imaginário do continente surge desde as Crônicas da Índia, de Bartolomé de las Casas à Pero Vaz de Caminha, até aos dias de hoje, passando pelo Realismo Mágico literário de Alejo Carpentier, Miguel Angel Astúrias e Gabriel García Márquez, entre outros. O real maravilhoso caracteriza-se, seja na literatura, como no cinema, por algumas particularidades estéticas: o envolvimento de um elemento estranho à uma realidade comum e sua progressiva normalização, ausência de identificação cronológica e espacial, preponderância do tempo circular, construção simbólica dos espaços como indicadores da curva dramática, temática geral predominantemente relacionada com a mestiçagem, o sincretismo e o isolamento. Alguns títulos do cinema latino-americano produzido na última década trazem alguns dispositivos estéticos do real maravilhoso na sua concepção cinematográfica, reinventando o ideário e imaginário sobre a América Latina como espaço geográfico-cultural aonde a metamorfose do mágico com a normalidade se torna realidade, onde tudo se mistura e se ressignifica.

 

Maria Alzuguir Gutierrez (USP). Um "momento crítico de consciência latino-americana": o cinema moderno da América Latina e as letras

Este trabalho se trata da busca por compreender a articulação do cinema moderno da América Latina com a literatura que lhe era contemporânea e a tradição letrada latino-americana na construção de um projeto nacional-continental. Para isto, partiremos de três exemplos fílmicos: Cabezas cortadas (Glauber Rocha, 1970), Una pelea cubana contra los demonios (Tomás Gutiérrez Alea, 1971) e La nación clandestina (Jorge Sanjinés, 1989).

 

Teresa Midori Takeuchi (UNESP). Vidas secas: cinema, figurino e literatura

O objeto de análise deste texto é o filme Vidas Secas (1963) do diretor Nelson Pereira dos Santos (1938), que será permeado por meio de comparações entre o figurino do filme e a intertextualidade com o texto literário, focando a figura do sertanejo. Este personagem sempre serviu de pano de fundo para falar de questões locais e ao mesmo tempo universais na linguagem do cinema e da literatura. Tais questões fomentam a discussão estética no imaginário popular e o erudito, desde quando se podia falar de cinema brasileiro em busca de uma identidade própria. Nesse sentido, a relação que discute a articulação entre uma linguagem a outra é pautada na comparação entre a estética cinematográfica proposta no cinema novo e o diálogo com outras linguagens, tais como as artes visuais e a literatura, promotores estes de leituras sociais, históricas e culturais.

 

Mediação: Elen Doppenschmitt

 

14h30 – 16h15, Auditório da Biblioteca

MESA 17: Memória latino-americana e repressão política

Adriana Rodrigues Novais (UNICAMP). "Pra frente amigos" ou "Ação Brasil": cinema e memória da ditadura civil-militar no Brasil para pensar o presente

Este trabalho tem como propósito discutir a memória e a representação da ditadura civil-militar no cinema brasileiro, especificamente a partir dos filmes Pra frente Brasil (Roberto Farias, 1982) e Ação entre amigos (Beto Brant, 1998). Entendo que a memória dos “vencidos” não circula na esfera pública de modo completo, sobretudo daqueles que resistiram diretamente à ditadura civil-militar e de todos os sujeitos que viveram essas duas décadas e tiveram suas vidas afetadas diretamente pela nova forma de organização econômica e política que se instaurou a partir de 1964. Ao analisar os dois filmes, procuro problematizar o tipo de memória que essas obras construíram. Com isso, pretendo evidenciar a importância da superação do passado ditatorial, posto que urge interromper a violência que se repete incessantemente nos dias atuais. Nos filmes analisados, a violência aparece como específica de uma ditadura militar. Porém, preocupa-me também a continuidade dessa violência na democracia como resposta a qualquer manifestação política que venha a questionar a ordem estabelecida. Assim, este trabalho pretende ser uma reflexão sobre a memória da ditadura num contexto importante, no qual experimentamos a atuação da Comissão Nacional da Verdade.

 

Luís Martins Villaça (USP). Nostalgia da luz e o ensaísmo de Patricio Guzmán

Este iminente projeto de pesquisa tem como objetivo final analisar o filme Nostalgia da luz (Chile, 2010), do documentarista Patrício Guzmán, sob a óptica daquilo que se pode definir como filme ensaio. Para tal empreendimento, serão considerados ainda os filmes A batalha do Chile (1975) e Chile, a memória obstinada (1995), do mesmo diretor, como corpus de pesquisa complementar. A partir da análise de Nostalgia da luz, pretendemos identificar os possíveis elementos de ensaísmo que o constituem perante a trajetória de realização dos outros filmes que compõem o corpus.

 

Vanderlei Henrique Mastropaulo (USP). La Patagonia rebelde: cinema de gênero, cinema político

O objetivo deste artigo é apresentar o contexto político da Argentina no período de produção do filme La Patagonia rebelde (Héctor Olivera, 1974), baseado no livro Los vengadores de la Patagonia trágica, escrito pelo jornalista Osvaldo Bayer. O país passava por um período político bastante singular, com a volta de Juan Domingo Perón de seu exílio na Espanha e com o fim dos duros anos de repressão da Revolução Argentina (1966-1973). Neste momento, a produção de filmes de conteúdo político no país foi considerável, e muitos deles são clássicos obrigatórios desta cinematografia de destaque na América Latina.

 

Mediação: Alexsandro de Sousa e Silva

 

14h30 – 16h15, Salão de Atos

MESA 18: Poéticas da produção de imagens e hibridização dos meios no cinema

Danusa Depes Portas (PUC RJ). Oscar Muñoz y el rumor de una imagen que se des-pliega

A crescente tendência nos estudos dos meios de comunicação pela dimensão transnacional do tráfico e a produção de imagens acompanham o deslocamento da imagem ao centro dos debates sobre o papel da representação nas culturas globais contemporâneas. Estas questões poderiam cumprir-se em dois problemas-chaves fundamentais, nos assinala Eduardo Cadava (2013): a hibridação dos campos disciplinares da fotografia, o cinema, a literatura, a arte em um contexto internacional; a relação entre a imagem e o arquivo, com respeito à memória, a história, a justiça. No horizonte destes problemas, através de alguns apontamentos, o objetivo deste trabalho será distinguir o papel constitutivo das sobrevivências na dinâmica da imaginação ocidental e as funções políticas dos agenciamentos memorialísticos dos que se revelam portadores, valendo-se da empresa do artista visual colombiano Oscar Muñoz como intercessor.

 

Fábio de Freitas Leal (UNESP). A presença do barroco no cinema – aspectos visuais e narrativos

Na evolução do cinema como linguagem é possível observar relações que se estreitam com expressões artísticas já consagradas, como a música, o teatro, a literatura, a pintura etc. Em parte isso se dá para legitimar o cinema como arte, porém, nesta busca, é possível que a relação ocorra de forma superficial. Não é pretendido neste texto avaliar obras que usam referências de pinturas levianamente e sim investigar produções que dialogam com o que é intrínseco ao barroco, tendo como recorte produções dos anos 1960 e 1970. Este artigo também abordará a questão da sobrevivência do barroco, que carregou por séculos o estigma de bizarro e decadente, para melhor entendimento de uma influência no cinema e consequentemente na contemporaneidade.

 

Fabíola Cristina Alves (UNESP). Macunaíma: visualidades sensíveis em correspondência

Este estudo apresenta algumas considerações sobre o universo perceptível que envolve Macunaíma e uma análise comparativa da visualidade que compõe  as seguintes obras: O batizado de Macunaíma (1956) de Tarsila do Amaral e Macunaíma (1969) estrelado por Grande Otelo, direção de Joaquim Pedro de Andrade. As duas obras tratam do romance Macunaíma (1928) de Mário de Andrade, publicado no período de atuação do Movimento Antropofágico. A análise considera a teoria da “correspondência” de Baudelaire e a teoria do vidente e o visível de Merleau-Ponty. A partir destes autores, procuramos compreender a interligação das experiências sensíveis originárias na percepção que as duas obras visuais proporcionam ao espectador da arte na fruição das experiências sensíveis originárias na obra literária.

 

Patrícia Alessandri (FAINC). Cinema como arte / arte como cinema: uma reflexão sobre as questões do hibridismo na produção cinematográfica contemporânea a partir do filme São Silvestre, de Lina Chamie

As significativas transformações no campo da comunicação e da tecnologia repercutem no âmbito das manifestações audiovisuais e do cinema tanto técnica quanto esteticamente, conferindo um viés renovado também à esta linguagem, que amplia seu campo de atuação para além de sua tradição como meio de produção de narrativas desenvolvidas a partir de imagens supostamente em movimento, manifestando-se através de relações entre-linguagens. As ideias de Gene Youngblood bem como o conceito de cinema expandido cunhado por este autor nos anos 70 apontam a importância desta complexidade de ideias permitindo definir o filme São Silvestre, de Lina Chamie, para ilustrar estas perspectivas. São Silvestre propõe experimentações audiovisuais pautadas por relações sinestésicas decorrentes da interrelação entre imagem/som/espaço, que provocam os sentidos do espectador, estabelecendo um nível de conexão emocional e sensorial para além das narrativas tradicionais, evidenciando uma linguagem que expande seus parâmetros inaugurais aproximando as relações entre cinema e arte e, proporcionando resistência e um contraponto ao padronizado cenário de dominação cultural.

 

Mediação: Mariana Duccini

 

17h00, Auditório da Biblioteca

SESSÃO PLENÁRIA: Cinema, relações institucionais e mercado

Antônio Tunico Amancio (UFF). Cooperativa Brasileira de Cinema - resistência e dispersão

Em maio de 1978, presidida por Nelson Pereira dos Santos, é criada no Rio de Janeiro a Cooperativa Brasileira de Cinema, uma das raras tentativas de inserção de realizadores no campo da exibição. Avalizados pela Empresa Brasileira de Filmes S.A (EMBRAFILME), os 40 cooperados adquirem o controle do circuito de cinemas da decadente PELMEX e começam seu projeto de ocupação do mercado cinematográfico. Dez anos depois, a experiência se revela frustrante e seus traços quase se apagam da memória nacional.

 

Marília Franco (USP). O cinema tímido

Se nos sobra competência criativa para ocupar as telas com obras de todos os sabores, sobra também uma imensa timidez na organização e sobretudo na gestão de instituições para os fazeres audiovisuais. Parte desse perfil perverso fica muito evidente no próprio desinteresse da academia em fazer pesquisas e produzir conhecimento nessas áreas. Há trabalhos densos, sobretudo em relação às atuações do Estado, mas perfis de gestão de empresas ou de períodos da cinematografia brasileira são escassos se comparados à quantidade de trabalhos de análises estéticas e/ou políticas ou de perfil histórico. Quando a classe se uniu, através do CBC – Congresso Brasileiro de Cinema entre 2000 e 2012, e pensou um projeto de gestão nacional, conseguindo manter bom diálogo com um governo “com ouvidos”, houve uma aceleração de conquistas que mudaram perfis de produção e sobretudo de abertura de janelas para nossa produção. Precisamos refletir sobre nossa vocação de gestores para fazer frente aos novos tempos para o audiovisual.

 

Carlos Augusto Calil (USP). Uma perigosa dependência

O direito à Cultura está previsto na Constituição do Brasil. Esse dispositivo legal não assegura por si só o exercício nem a equilibrada distribuição das ofertas culturais de produção e usufruto, mas é o sustentáculo de uma política pública que sucessivos governos, de níveis diferenciados, vêm promovendo. Curiosamente, não importa o partido instalado no poder, há mais de 20 anos essa política convergiu na renúncia fiscal, o que no limite acarreta a opção por uma renúncia à política cultural propriamente dita. Em consequência, artistas e produtores dependem cada vez mais de subsídios governamentais. Se esse fato inibe o investimento privado em Cultura e Arte, atrela cada vez mais ao governo um setor que só tem relevância quando é independente e crítico do poder público e da sociedade institucionalizada.

 

Mediação: Arthur Autran

 

19h00, Auditório da Biblioteca

PROGRAMA ESPECIAL: Mario Benedetti e Jorge Andrade: duas abordagens sobre a tortura na América Latina, com Afrânio Catani (USP)

O objetivo desta fala é discutir a tortura de prisioneiros políticos na América Latina a partir de duas peças teatrais, Pedro y el Capitán (1979, Benedetti) e Milagre na cela (1977, Andrade). Em ambos os casos observa-se um intrincado embate entre torturadores e torturados em que as presumíveis vítimas não são subjugadas pelos verdugos, ocorrendo assim "uma vitória na derrota" - derrota que é, portanto, aparente.

 

Mediação: Yanet Aguilera

 

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