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QUINTA-FEIRA, 14 DE AGOSTO

 

9h00 – 10h45, Auditório da Biblioteca

MESA 7: Memória e gerações

Fernando Seliprandy (USP). Novos contornos da memória da resistência no documentário da segunda geração

Na última década, multiplicam-se na América do Sul os documentários voltados à memória das ditaduras desde uma perspectiva familiar. Principalmente na Argentina, no Chile e no Brasil, filhos, sobrinhos ou mesmo netos de ex-militantes de esquerda partem da intimidade em filmes que buscam elaborar a experiência histórica de luta da geração precedente. A hipótese é que vem se configurando um subgênero regional do documentário, cujo eixo é o olhar de segunda geração para o passado autoritário. Propõe-se que a distância entre as gerações é atravessada por uma rede de legados e resgates, afetos e ressentimentos, aproximações e afastamentos. Essa intrincada dinâmica vai conformando uma memória íntima e introspectiva das ditaduras sul-americanas. Nos contornos desse subgênero documental de “segunda geração”, qual é o lugar da ideia de resistência? O que se recusa e o que permanece do horizonte épico que guiava o engajamento passado e que, muitas vezes, ainda dá o tom da memória da resistência?

 

Marcela Parada Poblete (PUC Chile). La memoria de lo no vivido: El astuto mono Pinochet contra la moneda de los cerdos (Perut y Osnovikoff, 2004)

La dupla Bettina Perut e Iván Osnovikoff se ha caracterizado por poner en obra un cine provocador e incómodo, interrogando en sus realizaciones el discurso y la reflexión acerca del documental y los registros de lo real. En el tema de Memoria y Resistencia que nos convoca revisamos El astuto mono Pinochet contra la moneda de los cerdos (2004), documental que nos re-sitúa en los bordes históricos del 11 de septiembre de 1973 en Chile. El film registra el seguimiento de dinámicas de improvisación y creación colectiva de niños y jóvenes chilenos que, en la actualidad, reconstruyen dramáticamente la situación del Golpe de Estado. En el juego de memoria histórica y representación, de memoria colectiva y memoria de lo no vivido por los chicos en escena, El astuto mono... acciona el desajuste con el discurso hegemónico oficial. Estremeciendo el imaginario suspendido en la historia colectiva asistimos al temblor de un acontecimiento que se reactiva en el presente de una nueva generación.

 

María Celina Ibazeta (PUC RJ). Duelo y memoria en M de Nicolás Prividera e Diário de uma busca de Flavia Castro

M (2007) y Diário de uma busca (2010) son documentales realizados por hijos de militantes de los años setenta que indagan las causas y las circunstancias de la muerte de sus padres. Nicolás Prividera, en Argentina, y Flavia Castro, en Brasil, son los protagonistas de una búsqueda personal que los lleva a transitar por espacios institucionales y familiares a fin de encontrar pistas que ayuden a reconstruir las historias de Marta Sierra y Celso Castro respectivamente. A pesar de sus diferentes recorridos, hay un punto que ambos comparten: la necesidad de pensar y reflexionar sobre la historia familiar/nacional en conversaciones frente a la cámara con sus hermanos. Esta estrategia reflexiva es innovadora dentro del corpus de documentales realizados por hijos de militantes políticos y nos sirve de punto de conexión para comparar la experiencia argentina y brasileña. Es ese espacio de interacción familiar cuyo discurso, no siempre homogéneo, el que analiza este artículo.

 

Mariarosaria Fabris (USP). À espreita dos adultos

Dentre as produções cinematográficas sobre os anos de chumbo na América Latina, gostaria de destacar alguns filmes de ficção e documentais que tiveram familiares de militantes políticos como narradores ou protagonistas. São narrativas em que, muitas vezes, a causa revolucionária dos adultos entra em contraste com a esfera afetiva dos mais jovens, cuja infância e/ou adolescência foi marcada pelas escolhas políticas destes; são relatos privados e públicos, ao mesmo tempo, porque enfocados, frequentemente, do ponto de vista de quem tem laços de parentesco com os personagens das histórias contadas. Desse modo, na abordagem dos filmes, o que me interessa salientar é esse olhar mais intimista, o qual, porém, não deixa de tangenciar a História, de interrogar-se insistentemente sobre ela.

 

Mediação: Mariana Villaça

 

9h00 – 10h45, Salão de Atos

MESA 8: Crítica e recepção cinematográfica

Eliska Altmann (UFRRJ). A crítica segundo a crítica latino-americana

“Talvez o desafio que o cinema agora propõe à crítica se encontre na aparente desnecessidade da crítica. Ela já não integra o espaço cinematográfico ou continua parte dele em outra forma, latente, ainda não revelada de todo” – a sentença proferida pelo crítico brasileiro José Carlos Avellar coincide com a afirmativa escrita por Terry Eagleton de que “à parte de sua função marginal de reproduzir as relações sociais dominantes, a crítica se acha quase que inteiramente privada de sua raison d’être”. Isto posto, o trabalho se baseia numa dupla análise: 1) no exame de discursos sobre o campo da crítica por autores das ciências humanas, que o analisam a partir de sua construção e institucionalização assim como de sua (suposta) desnecessidade; 2) um mapeamento sociológico do campo da crítica latino-americana, de modo a verificar como o mesmo é constituído por seus próprios agentes. Para tanto, utilizaremos como fonte primária entrevistas, frutos de uma pesquisa realizada ao longo de sete anos, em quatro países: Argentina, Brasil, Cuba e México.

 

Thays Salva (UNIFESP). O espectador em Whisky: entre o popular e o erudito

Trata-se de debater a questão do espectador na América Latina e sua relação com as categorias culturais de popular e erudito a partir do filme Whisky (Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella, Uruguai, 2004), no que a análise proposta baseou-se em dois importantes estudos sobre o assunto: Dialética do espectador (1982), do renomado cineasta cubano Tomás Gutiérrez Alea, e O espectador emancipado (2008), do filósofo francês Jacques Rancière. De modo geral, ambos abordam a questão do espectador não apenas sob a perspectiva de uma arte política, como também – em especial – de uma política da arte, mas cada qual a seu modo e em seu tempo, no que é importante considerar a posição do primeiro como artista-produtor e do segundo como intelectual. Neste sentido, o trabalho apresenta algumas considerações presentes em ambos os estudos para, em seguida, mostrar como o filme de Stoll e Rebella pode ser percebido a partir do que é exposto sobre a figura do espectador.

 

Pedro Plaza Pinto (UFPR). As tarefas do crítico e os desafios do intelectual: um relato sobre Paulo Emilio Salles Gomes durante a mais recente ditadura brasileira

A proposta deste estudo é seguir o fio da presença e do trabalho do crítico Paulo Emilio Salles Gomes com o objetivo de propor questões sobre as tarefas de um intelectual no período do recente regime ditatorial. A persistência de velhos problemas do cinema local relativizam a ideia de novos tempos no trecho de vida enfocado, mas o correr dos anos aponta para formas de violência institucionalizada que terão a atenção do professor e especialista em cinema. O trabalho de professor se adensa no final da década de 1960, ao passo em que pesquisa para a sua monografia sobre Humberto Mauro. Em seguida, a sua postura na coluna no Jornal da Tarde (1973) e na equipe de redação da revista Argumento (1973-74) pode ser caracterizada como tentativa de agregação em torno da ação de resistência, indicando um tipo de atitude que promoverá a contestação do regime nos anos posteriores. A proposta deste escrito é contextualizar os materiais que moldaram a participação política do crítico na década de 1970.

 

Mediação: Thays Salva

 

11h00 – 12h45, Auditório da Biblioteca

MESA 9: Espaço urbano e desigualdade social

Letizia Osório Nicoli (UNICAMP). Meninos invisíveis - a figura do menor nos documentários A escola de 40 mil ruas e Wilsinho Galileia, de João Batista de Andrade

O presente artigo revisita dois documentários de João Batista de Andrade para o programa Globo Repórter, centrados na temática do menor: A escola de 40 mil ruas (1974) e Wilsinho Galileia (1975). Através da contextualização histórica do termo menor, busca-se perceber as conexões entre as asserções do diretor e os discursos e as práticas institucionais da época, que não atribuíam a esses indivíduos um lugar na sociedade. Pretende-se ressaltar, assim, a importância dos dois documentários em sua proposta de trazer para a televisão, espaço dominado pelo discurso institucional, o debate sobre as obrigações do Estado com essas crianças negligenciadas.

 

Marília Bilemjian Goulart (USP). Narrativas (extra)carcerárias: Massacre do Carandiru e Ataques do PCC através das reverberações em diferentes mídias

Outubro de 1992. Segundo dados extraoficiais, pelo menos 300 detentos foram executados na maior casa de detenção da América Latina, o Carandiru. Maio de 2006. Às vésperas do Dia das Mães é iniciada uma onda de ataques contra coletivos, agências bancárias e forças de Segurança e do Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo. Além da enorme e intensa dimensão midiática, Massacre do Carandiru e Ataques do PCC reverberaram também em uma série de canções e produções audiovisuais. Ao lado das músicas 19 Rebellions (Asian Dub Foundation), Manifest (Sepultura) e Diário de um detento (Racionais MCs), os filmes Carandiru (Hector Babenco, 2003) e Prisioneiro da grade de ferro (Paulo Sacramento, 2004) apontam diferentes abordagens da população carcerária, do presídio e enfim, do Massacre. Fora do cárcere, os Ataques de Maio de 2006 ensejaram distintas narrativas em Inversão (Edu Felistoque, 2010), Salve geral (Sérgio Rezende, 2009) e Inquilinos (Sérgio Bianchi, 2009). Como veremos, em cada filme os ataques aparecem de múltiplas formas e contribuem para a construção de diferentes São Paulo(s) nas telas. A partir da teia formada pelas interlocuções midiáticas, essa apresentação discutirá as repercussões dos eventos e os significados produzidos por elas. As diferentes narrativas colocam em pauta questões estéticas e também políticas ao abordarem a contundente temática da violência urbana e ao conferirem visibilidade (e em alguns casos voz) à oculta população carcerária.

 

Ana Daniela de Souza Gillone (USP). Estética e política do filme Esse amor que nos consome

Trata-se de analisar o modo com que o filme Esse amor que nos consome (Allan Ribeiro, 2013) tensiona sua política entre enquadramentos considerados realistas e formalistas. Ao narrar o cotidiano de uma companhia de dança contemporânea que passa a ocupar um casarão, o filme ressignifica a história dos atores que na vida real se dedicam à mesma companhia. Nesta fusão entre realidade e enquadramento ficcional, o filme interrelaciona o real e a representação, desde sua concepção: da seleção das personagens, que são atores e dirigentes reais da companhia, à locação que poderia ser ocupada para a produção de um filme. Entre supostas formas de documentar e ficcionar dada realidade, a narrativa deu visibilidade a temas caros dos chamados cinemas de arte e político. Dança contemporânea, cultura negra, homossexualidade, marginalidade, especulação imobiliária e a necessidade de ocupação da cidade pelo povo são alguns dos elementos estruturantes de sua política. Mas é justamente entre os temas arte e política em que o filme se desenvolve que ele se torna ambíguo em sua objetividade política. Propõe-se, então, examinar os procedimentos estéticos e retóricos que estruturam a política do filme relacionada ao realismo.

 

Raul Lemos Arthuso (USP). Brasília, alegoria do nosso desenvolvimento

O trabalho “Brasília, alegoria do nosso desenvolvimento” aborda os dois longas-metragens do cineasta Adirley Queirós - A cidade é uma só? (2011) e Branco sai, preto fica (2014) - a partir das tensões entre centro e periferia em Brasília. Nos filmes de Adirley Queirós, a capital é uma alegoria do desenvolvimento desigual da sociedade brasileira. Então, esses dois filmes se colocam numa missão de afirmação da identidade e de uma "sensibilidade de periferia", moldando as narrativas a partir da vivência das personagens, moradores da Ceilândia, cidade-satélite do Distrito Federal. Nos dois filmes convergem história, política e questões sociais que compõem um imaginário fílmico muito particular, rediscutindo o processo de exclusão das metrópoles brasileiras e seu reflexo na vida das populações de periferia.

 

Mediação: Lúcia Monteiro

 

11h00 – 12h45, Salão de Atos

MESA 10: Expansão do meio - cinema como Arte Contemporânea

Annádia Leite Brito (UFC). O cinema é meu playground: sobrevivência das imagens e emancipação do espectador

A Ex-posição O cinema é meu playground (Solon Ribeiro, 2013) é analisada tendo em vista a sobrevivência de seus fotogramas deslocados do cinema clássico e a potência de emancipação ao reconhecer o espectador como igual. Através da teoria de Georges Didi-Huberman, suscitada pelos vaga-lumes de Pier Paolo Pasolini, é possível pensar nos fotogramas como imagens pregnantes de tempos múltiplos, que se evidenciam por meio de processos de montagem. Esta experiência, vivenciada pelo espectador, se dá na penumbra do contemporâneo, como visto em Giorgio Agamben. Dessa forma, o espectador é reconhecido como parte importante na obra, em estado igual ao artista. Ambos são responsáveis pela quebra e constante feitura de uma linguagem ainda não consolidada. Para tanto, recorre-se à teoria de Jacques Rancière ao trazer a figura do espectador emancipado e do regime estético da arte. O trabalho de Solon Ribeiro faz as cinzas das imagens voltarem a arder em meio à escuridão do contemporâneo.

 

Beatriz Morgado (UFRJ). Hélio Oiticica: cinema subterrâneo

Nos anos 1970, o artista Hélio Oiticica (1937-1980) liberou o cinema da tela de projeção, confirmando a transformação do espectador em participador já concretizada pelo deslocamento da pintura do quadro para o espaço tridimensional em seus “parangolés”, uma década antes. Este trabalho investiga contribuições do artista ao campo do cinema, priorizando o período vivido em Nova Iorque (1971-1978) ao incorporar a imagem cinematográfica a seu campus experimental. Apoiados na abordagem da “hermenêutica do artista” de Ricardo Basbaum, consideramos Oiticica autor de sua própria vida-obra, compreendendo os textos desse artista como efeito-veículo dessa construção de si. Indagaremos como este artista se inventou como um propositor do campo do cinema por meio da negação desta categoria. Por meio do conceito “nãonarração”, formulado e vivenciado por Oiticica, pesquisaremos de que forma ele transforma o cinema em instrumento experimental aberto à invenção, recusando o código narrativo.

 

Camila Vieira da Silva (UFRJ). Criar um rosto é forjar uma ausência: retrato, artifício e apagamento

De que modo é possível pensar a relação entre retrato e apagamento de si durante a captura da imagem de um rosto por uma câmera de cinema? Este trabalho procura investigar o rosto como lugar do artifício, da exterioridade e do anonimato em dois projetos artísticos: os screen tests com Ann Buchanan e Freddy Herko, realizados em 1964 por Andy Warhol; e o curta-metragem Camila, agora (2013), do curitibano Adriel Nizer Silva. Nos dois casos, dar ou criar um rosto pressupõe a desfiguração de um possível original. Trata-se de inventar uma máscara e desconstruir uma identidade. A autobiografia pelo retrato pode forjar uma ausência? No atravessamento entre cinema e artes visuais, quais as estratégias de produção de imagem nestes dois projetos artísticos que apontam para uma resistência aos modos banais da representação de si?

 

Mediação: Thays Salva

 

14h30 – 16h15, Auditório da Biblioteca

MESA 11: Estratégias narrativas, estratégias políticas

Carla Daniela Rabelo Rodrigues e Carlos Fernando Elías Llano (USP). Cinema peruano: estéticas da exploração em Altiplano

O artigo analisa o filme Altiplano (2009) e suas abordagens temática e estética sobre a dura realidade dos habitantes de uma comunidade próxima à cidade de Turubamba (Peru). Eles sofrem com a exploração da terra e também social. Essa exploração está relacionada às minas de mercúrio instaladas na região que geram contaminações e consequentemente reivindicações sociais. Combina um universo onírico, tanto visual quanto sonoro, com uma concepção ocidental de mundo para discutir desenvolvimento industrial voraz, capitalismo, exploração de recursos naturais e políticas sociais.

 

Mônica Brincalepe Campo (UFU). Albertina Carri e a crítica à violência em sociedade

Na obra de Albertina Carri é incisivo seu olhar a relacionar a violência e as instituições sociais, e especificamente, a crise da família patriarcal. Nesta comunicação analiso a crítica ao patriarcalismo e a relação com a violência, investigo na filmografia de Carri a temática da opressão e os recursos estéticos de que a cineasta se vale para expressar esta situação em sociedade. A utilização de recursos do documentário no estabelecimento do diálogo com o “real”, mas também, de recursos da animação – portanto, em diálogo direto com os limites das narrativas do real e em viés ficcional – tem sido o destaque característico de sua produção. Enfim, procuro observar o específico de sua elaboração como também compreender se é possível questionar esta representação com base nos ensaios políticos de Hannah Arendt.

 

Yanet Aguilera (UNIFESP). Del olvido al no me acuerdo e a análise fílmica

Embora o hibridismo cultural faça parte de quase todo o cinema da América Latina, poucos trabalhos tomam este viés em suas análises. Não considerar a lógica do ponto de vista das culturas nativas tem deixado a crítica de nosso cinema muito aquém do que é proposto pelos filmes. Um esforço por parte dos estudiosos de sair dos esquemas usados pela crítica europeia – que divide as obras cinematográficas em clássica e moderna – ainda está por ser construída. No caso do filme do Juan Rulfo sobre seu pai, não pensar nas referências às culturas nativas mexicanas que influenciaram a literatura do escritor mexicano é deixar de fora os aspectos mais importante do filme. Trata-se de colocar esta perspectiva na análise que me proponho a fazer Del olvido al no me acuerdo.

 

 Mediação: Yanet Aguilera

 

14h30 – 16h15, Salão de Atos

MESA 12: Interpretações de procedimentos estéticos e formais

Fábio Camarneiro (UFES-USP). Traduzir a tradição: "poética de emulação" em Machado de Assis e Júlio Bressane

Em Machado de Assis: por uma poética da emulação, João Cézar Castro Rocha aponta para a maneira particular como Machado de Assis relê a tradição da literatura universal a partir da técnica da emulatio. O cineasta carioca Júlio Bressane, que baseou dois longas-metragens em obras de Machado de Assis, utiliza, no contexto do cinema, procedimentos que podem ser relacionados com a emulatio machadiana. Brás Cubas (1985), para além de uma adaptação dos entrechos narrativos do livro, lida com a (im)possibilidade de traduzir os elementos centrais do “estilo” de Machado para o cinema, ou seja, tentar filmar de maneira similar a como escreve  o narrador do livro – “com a pena da galhofa e a tinta da melancolia” Bressane pode ser classificado como um cineasta da emulatio, uma vez que relê a tradição (seja ela literária, pictórica ou cinematográfica) a partir da cidade do Rio de Janeiro, recolocando em nova chave questões sobre a identidade nacional e as relações entre centro e periferia.

 

Renato Cunha (UnB). Ambiguidades circulares: identidade, espaço e tempo na cinematização de Estorvo

A partir de uma resenha do crítico Augusto Massi, que identifica a presença de três ambiguidades em Estorvo, primeiro romance de Chico Buarque, este artigo discorre sobre o processo de cinematização realizado por Ruy Guerra. Portanto, esses três aspectos ambíguos – identidade, espaço e tempo — são relacionados literária e cinematograficamente com o intuito de revelar como o diretor captou a essencialidade deles e os transportou de modo inusitado e eficaz para a narrativa fílmica, construindo propositadamente a ideia de um mundo turvo.

 

Miriam Viviana Gárate (UNICAMP). Os "latinos" viajam à Meca do cinema

A presença de relatos que se organizam em torno ao motivo da viagem a Hollywood é um dado significativo das letras latino-americanas dos anos 1920-1930, que corre paralelo à expansão da cinematografia estadunidense em escala planetária. Una aventura de amor (1918), Miss Dorothy Phillips, mi esposa (1919), Che Ferrati, inventor (1923) e Hollywood, novela da vida real (1932) constituem exemplos a serem analisados. Para tanto, serão levados em conta os seguintes aspectos: o desvendamento das regras que vigoram nos grandes estúdios; o retrato de “tipos” que se consolidam por esses anos; a relação mimética das personagens com o cinema em diversos âmbitos; o vínculo afetivo espectador-estrela; o tema do dublê; a imbricação crítica cinematográfica/ficção literária; a utilização de procedimentos tendentes a conferir à escrita uma estrutura e um dinamismo cinemáticos.

 

Rosângela Canassa (UNESP). Do livro ao filme: O beijo da mulher aranha e a participação imaginária do espectador de cinema

O filme narra a história de dois prisioneiros encarcerados numa prisão da América do Sul. Valentim e Molina foram presos por motivos distintos, mas a dor do encarceramento os une e acaba se transformando numa grande amizade. Valentin é um preso político e Molina é usado pela polícia para passar informações secretas de seu parceiro de cela. Molina contribui com os militares em troca de sua saída da cadeira. Por meio de truques como uma aranha tecendo a sua teia para uma armadilha, Molina envolve-o com mimos, boa comida e também narrando histórias sobre filmes que ele inventa, como daquela francesa envolvida numa trama de espionagem nazista, a mulher aranha. Ele se apaixona pelo amigo de cela e a dúvida é até quando Molina conseguirá traí-lo repassando as informações secretas de Valentin à polícia? Quando se trata de uma transposição de um texto literário para o fílmico, como fica o olhar deste espectador que percebe a obra acabada?

 

Mediação: Elen Doppenschmitt

 

17h00, Auditório da Biblioteca

SESSÃO PLENÁRIA: Os cinemas de Argentina, Brasil e México

Rubens Luís Ribeiro Machado Jr. (USP). Os recalques da vocação moderna no cinema brasileiro dos anos 1960

O impacto proporcionado pelo filme O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla, exprime no final de 1968 contradições centrais da vida brasileira que se foram acumulando durante toda a década que o antecede. A explicação só cinéfila deixaria muito a desejar, mesmo quando cultivada do debate brasileiro do Moderno e do Tropicalismo: ‑ Uma deglutição antropófaga de Godard, Welles, do policial B estadunidense ‑ a par do próprio Cinema Novo (do qual, aliás, deriva), do cinema “sério” paulista, a que o Sganzerla crítico havia chamado de “expressionismo caipira”, ou o não-sério de Carbonari, a Chanchada etc. O fato é que também se manifesta em seu timbre espalhafatoso uma pobre TV nascente, a inspiração tonificante do rádio, a imprensa popular, os quadrinhos, todo um universo mediático que se mimetizará em novidade, na sua fórmula impactante. Neste quadro, o filme se dispõe como divisor de águas na história do filme nacional, sugerindo qualquer coisa como um cinema pré e um pós mídia.

 

Álvaro Vázquez Mantecón (Universidad Autónoma Metropolitana - Azcapotzalco, México). El 68 en el imaginario cinematográfico mexicano

En el presente trabajo se hará una valoración sobre cómo el registro del movimiento estudiantil de 1968 en el cine se convirtió en un detonador del cine militante en México y permitió su vinculación con el Nuevo Cine Latinoamericano. Veremos también como la representación de ese evento histórico en las películas constituyó un tropo visual que encarnaba un imaginario de resistencia. En contra del silencio generado por el régimen en torno al evento, algunos realizadores se obstinaron en la construcción de imágenes que apuntaran hacia el ejercicio de una memoria que apuntaba hacia la demanda de cambios políticos y sociales.

 

Eduardo Russo (Universidad Nacional de La Plata - Argentina). Materia, memoria y sombra. Dinámicas intermediales, poéticas de pasajes y mutaciones del espectador en las instalaciones fílmicas de Andrés Denegri

El conjunto de instalaciones fílmicas del artista audiovisual Andrés Denegri representan en la escena de las artes audiovisuales un hito en varios aspectos. Se trata de la primera oportunidad en la Argentina en que una exhibición íntegra utiliza el dispositivo cinematográfico en extensión, a lo largo de diversos soportes y tecnologías, que abarcan desde los formatos propios del cine familiar hasta el profesional standard de 35 mm. A la vez de interrogar desde la tecnología la historia del cine desde sus comienzos hasta un contexto postcinematográfico, las instalaciones, cuya configuración corpórea proponen también un diálogo inusual entre cine y escultura, proponen explorar las zonas oscuras de la historia argentina en el siglo veinte. Convirtiendo el espacio exhibitivo en cámara oscura, indagando los diversos sentidos del concepto de proyección, estas piezas ponen en acto un pensamiento sobre la materialidad cinematográfica, su huella y los estados posibles de un espectador en tránsito.

 

Mediação: Estevão de Pinho Garcia

 

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