VII COCAAL
VII COLÓQUIO DE CINEMA E ARTE DA AMÉRICA LATINA
O PÚBLICO NO CINEMA E NA ARTE DE AMÉRICA LATINA (AL)
QUARTA-FEIRA, 14 DE AGOSTO
9:00
Coffee Break
9:30 – 11:30
SALA LUPE COTRIM
Abertura Solene do Colóquio
Profa. Dra. Lisbeth Rebollo Gonçalves (PROLAM)
Palestrantes:
Profa. Dra. Marília Franco (PROLAM)
Palestra: América Latina: posições, suposições, sobreposições
Prof. Dr. Rubens Luís Ribeiro Machado Junior. (ECA)
Palestra: Exposed, o agit-prop obscuro e controverso cinema de intervenção política durante a ditadura militar brasileira
Profa. Dra. Yanet Aguilera (UNIFESP)
Palestra: O público: história e descolonização
11:30 - 13:30
SALA LUPE COTRIM
Prof. Dr. José Antônio da Silva (UFF) – Homenageado
Palestra: Rumo a Brasília – o Caminho da Esperança
Prof. Dr. Guilherme Maia de Jesus (UFBA)
Palestra: Canção Popular e Cinema: Afetos Autoria e um Falso Problema
Mediadora: Yanet Aguilera
EIXOS DE TRABALHOS E COMUNICAÇÕES
14/08/2019
14:30 – 16:30
HISTÓRIA, CINEMA E MEMÓRIA
14:30 – 16:30
SALA 227 – Prédio CTR (Cinema, Televisão e Rádio) ECA
“Memória, violência e Ditadura”
Marco Antônio Visconte Escrivão, USP – A FAMÍLIA DE ELIZABETH TEIXEIRA E CABRA MARCADO PARA MORRER:CONSTRUÇÃO, PARTILHA E SEDIMENTAÇÃO DA MEMÓRIA
RESUMO: Este artigo busca refletir sobre os processos de construção, partilha e sedimentação da memória realizados por Eduardo Coutinho junto aos seus entrevistados na qualidade, ele mesmo, de agente da história. Depois de 30 anos de lançar Cabra marcado para morrer, Coutinho empreende novas filmagens para reencontrar Elizabeth Teixeira, personagem central de seu filme, alguns de seus filhos e também netos, rememorando histórias e desvelando novos descobrimentos e fechando o ciclo de Cabra, com o filme chamado A família de Elizabeth Teixeira, lançado como extra do DVD comemorativo do clássico Cabra marcado. O ato de fazer documentário possibilitou a conformação e transmissão de uma memória individual e também coletiva passada por gerações e simbolizada aqui, de maneira especial, na neta, hoje historiadora, Juliana Elizabeth Teixeira. Passagem do tempo, rupturas e cicatrizes, memórias elaboradas com algum distânciamento histórico e o documentário como elemento fundamental.
Julia Gonçalves Declie Faglioli – EXÍLIO E INTERRUPÇÃO: AS CONDIÇÕES DA RETOMADA DOS ARQUIVOS NOS CINEMAS DE PATRÍCIO GUZMAN E EDUARDO COUTINHO.
RESUMO: Pressupondo que a montagem dos arquivos contribui para o entendimento da história, propomos comparar duas obras cinematográficas do contexto das ditaduras latino-americanas: a A batalha do Chile (Patrício Guzmán, 1975-1979) e Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho, 1984). Buscamos perceber como se articulam a tomada e a retomada, além de analisar aspectos formais dos filmes que poderiam dar a ver a maneira como são atravessados por seus contextos, pelas condições às quais estão submetidos. A realização da trilogia de Guzmán se iniciou no Chile, porém, precisou ser interrompida, pois, após o golpe militar de 1973, o diretor foi exilado e a produção foi retomada e finalizada na França. (MOUESCA, 1988). Cabra marcado para morrer, sabemos, é um filme amplamente discutido, no entanto, o que propomos é um olhar à obra prima de Eduardo Coutinho em relação à Batalha do Chile de Guzmán e, de maneira mais geral, ao cinema militante no contexto das ditaduras na América Latina.
Rafaella Maria Bossonello Bianchini, UFSCar - UMA LONGA VIAGEM (2011), DE LUCIA MURAT: O TRAUMA E O TESTEMUNHO DO SOBREVIVENTE NAS INSTÂNCIAS DAS MEMÓRIAS PESSOAL E COLETIVA DA HISTÓRIA BRASILEIRA
RESUMO: O documentário Uma longa viagem (2011), de Lucia Murat, através múltiplas camadas de recursos narrativos, estéticos e de recolha de arquivo acessa e esmiúça memórias em busca de uma releitura do passado, perpassando instâncias coletivas e pessoais de memórias sobreviventes: a do passado histórico e político social dos anos de 1960 e 1970, a geracional e a pessoal e familiar. A narrativa fílmica, construída e refletida por uma autora que é co-protagonista dessas memórias e pelo seu personagem objeto, criam um novo documento sobre o passado, ressignificado pelo cinema. Este trabalho busca analisar as implicações do testemunho do trauma histórico em filmes documentais em que a memória sobrevivente deste testemunho é também a do próprio autor. Essa reflexão se dará através principalmente através das discussões trazidas por Márcio Seligmann-Silva (2008) e também através de autores como Leonor Arfuch (2010), Ecléa Bosi (2013), Philippe Dubois (2004) e outros.
Maria Elisa de Carvalho Sonda UFEP – MODERNIZAÇÃO E VIOLÊNCIA EM IRACEMA UMA TRANSA AMAZÔNICA (1974)
RESUMO: Iracema, uma transa amazônica é uma ficção-documental que busca retratar as consequências sociais e ambientais do período de crescimento acelerado e modernização conservadora que marcou o início dos anos 1970 no Brasil. A narrativa é construída através de aspectos de linguagem fílmica do cinema verdade, onde a câmera na mão e as cenas não ficcionais intencionam reproduzir um efeito do real para denunciar a exploração predatória do regime militar na região Amazônica, com a construção da Transamazônica. Por meio da análise do discurso cinematográfico e da contraposição de elementos do filme com fontes do período, este trabalho propõe uma investigação das violências decorrentes da modernização e do avanço do capitalismo na região amazônica. Na visão desta pesquisa, a trajetória de Iracema no decorrer do filme é carregada de significados que, através do jogo entre o visível e o não-visível, buscam expor as catástrofes vividas pelos cidadãos que ficaram à margem da sociedade durante o regime militar.
ARTE E CINEMA EXPERIMENTAL NA AMÉRICA LATINA
14/08/2019
14:30 – 16:30
SALA 236 – CTR/ECA
Maria Alzuguir Gutierrez, USP – DESCONECTAR DO QUÊ?
RESUMO: Son o no son, realizado por Julio García Espinosa em 1977, mescla números coreográficos, musicais e cômicos com reflexões sobre o cinema, a indústria cultural e a cultura popular. Trata-se de um filme-ensaio, nos dois sentidos da palavra: de gênero ensaístico e de preparação para um espetáculo. Ou de um musical sobre como fazer um musical no mundo subdesenvolvido. O filme é uma materialização prática das ideias que o diretor viera desenvolvendo em textos teóricos e em suas atividades político-organizativas ao longo dos anos.
Thiago Mendonça, TONACCI E O EXÍLIO
RESUMO: Este trabalho propõe discutir a obra de Andrea Tonacci, com especial atenção ao filme Já Visto, jamais visto (2013) a partir da perspectiva de um olhar “exilado”. A condição de exílio será pensada aqui em um duplo sentido. Em primeiro lugar no sentido literal: Tonacci chega ao Brasil ainda criança como imigrante acompanhando seus pais, que abandonaram a Itália após o trauma da 2ª Guerra Mundial. Acreditamos que esta condição deixará marcas muito particulares em seus filmes (em especial a ausência do espírito nacional-popular tão presente no cinema brasileiro). Em segundo lugar a partir de uma dimensão metafórica do conceito de exílio, tendo como base a perspectiva construída pelo crítico literário Edward Said, que descreve o intelectual como um “auto exilado”, alguém que se coloca fora das estruturas de poder e de reificação da cultura hegemônica.
Rafael Castanheda Parrode, O OCASO DO TERCER CINE NAS PRODUÇÕES DE TRÊS COLETIVOS LATINO-AMERICANOS DO FINAL DOS ANOS 1970 E DO INÍCIO DOS ANOS 1980
RESUMO: Este trabalho pretende situar a produção do coletivo Cineclube Antônio das Mortes identificando traços que o aproximam de experiências coletivas similares localizadas em outros países da América Latina, especificamente na Colômbia (Grupo Cáli) e Peru (Grupo Chaski) do final dos anos 1970 e início dos 1980. Nesse período evidencia-se a dissolução dos ideais identitários, políticos e revolucionários em torno da integração latino-americana – agravados pelo avanço dos governos militares e totalitários na região – e no caso do cinema aprofundado pela transição do analógico para o vídeo. Parte-se assim de uma relação intrínseca entre o contexto histórico da América Latina de modo mais amplo, evidenciando cada coletivo e sua produção levando em conta suas especificidades regionais, temáticas e estéticas. A pesquisa teórica também se faz necessária uma vez que estabelece uma historiografia dos estudos sobre cinema na América latina a partir dos anos 1950, e seus desdobramentos que culminam na definição de “Terceiro Cinema”, problematizando o termo à luz de outras teorias igualmente importantes que delinearam o cinema político e revolucionário latino americano.
Anna Karinne Ballalai, USP - HELENA IGNEZ, "A MULHER DE TODOS" E SUA RECEPÇÃO CRÍTICA
RESUMO: Esta comunicação investiga o trabalho da atriz e cineasta Helena Ignez, num dos títulos mais emblemáticos de sua filmografia, A mulher de todos (Rogério Sganzerla, 1969), realizado em plenos Anos de Chumbo da ditadura civil-militar no Brasil. A trajetória cinematográfica desta artista é exemplar, na medida em que atravessa diversas fases do cinema moderno brasileiro, e está associada a seus momentos de gênese, transição e ruptura, seja no Cinema Novo, seja no dito Cinema Marginal. À presente comunicação se coloca um duplo objetivo: 1) compreender no universo da recepção crítica ao filme A mulher de todos, os debates e discursos formulados acerca do trabalho atoral de Helena Ignez e da construção da personagem feminina; 2) investigar, à luz da trajetória de Ignez nas décadas de 1950-70, se a sua atuação em A mulher de todos poderia representar uma mudança paradigmática em termos do trabalho atoral e da construção da personagem feminina no âmbito do cinema moderno no Brasil.
CINEMA, ARTE E GÊNERO
14/08/2019
14:00 às 16:30
Sala Paulo Emílio – ECA
Amanda Lopes Fernandes UAM – O SILÊNCIO NA HISTÓRIA DO CINEMA EM FACE DE ALICE GUY
RESUMO: Esse artigo é parte de uma pesquisa sobre Alice Guy Blaché, sua filmografia e o silêncio existente em torno de seu nome na história do cinema mundial. Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a diretora, a proposta para essa comunicação é apresentar a partir de sua história e trajetória como realizadora mulher, a relevância de seu trabalho e a importância de sua produção cinematográfica no contexto da história do cinema.
Erika Amaral, USP – REPRESENTAÇÕES DA MULHER CAIPIRA NO CINEMA DE AUTORIA FEMININA DA RETOMADA
RESUMO: Durante o cinema da Retomada, dois filmes de ficção dirigidos por cineastas mulheres tematizaram aspectos da vida da mulher caipira. Amélia (2000), escrito e dirigido por Ana Carolina, registra o encontro inesperado entre três matutas do interior de Minas Gerais e a célebre atriz francesa Sarah Bernhardt, no Rio de Janeiro de 1905. Uma vida em segredo (2001), dirigido por Suzana Amaral, acompanha a jovem Biela em sua chegada a uma pequena cidade onde vivem seus primos, após partir de sua estimada fazenda do Fundão. Em ambos os filmes, o protagonismo é de mulheres caipiras submetidas à necessidade de migração do campo para a cidade. Enfrentam questões como o conflito cultural causado pelos hábitos da cidade e da artista estrangeira, a ruína das relações familiares e o medo constante do roubo de suas terras, no filme de Ana Carolina, e a pressão social pelo casamento, a adaptação à etiqueta do meio urbano e a saudade da fazenda, no filme de Amaral. Nesta comunicação, buscamos analisar comparativamente a representação da caipira de modo a investigar como a cultura caipira transparece nas diegeses por meio da construção das personagens e dos recursos de mise-en-scène.
Carolinne Mendes da Silva, USP – REPRESENTAÇÕES DO FEMININO EM TERRA EM TRANSE (GLAUBER ROCHA, 1967)
RESUMO: Na Europa e nos Estados Unidos dos anos 1960, houve um grande impulso ao movimento feminista. No Brasil, embora o movimento só tenha se consolidado na década de 1970, o debate sobre o papel da mulher na sociedade e a luta pela igualdade de direitos já estava em pauta na década anterior. Envolvido neste contexto sociocultural e também na proposta de transformação do campo cinematográfico, o cinema de Glauber Rocha procurou articular experimentação estética e análise social. Terra em Transe, um de seus filmes mais importantes, constitui também uma obra emblemática para uma investigação sobre a problemática de gênero a partir da análise fílmica. Embora centrado no protagonista Paulo (Jardel Filho), a presença das personagens - Sara (Glauce Rocha) e Sílvia (Danusa Leão) nos leva a pensar sobre as representações do feminino no cinema de Glauber.
CINEMA E MOVIMENTOS SOCIAIS
14/08/2019
14:00 às 16:00
SALA 223 do CTR (Cinema, Televisão e Rádio) - ECA
Shay Peled, Gabriela Santos Alves, Marcus Neves, Willian Loyola e Brunela Vieira de Vincenzi, UFES – DOCUMENTÁRIO REFÚGIO: REGISTRO POLÍTICO E SOCIAL DE REFUGIADOS NO ES, BRASIL
RESUMO: Na atualidade é possível perceber o crescimento nada sutil da intolerância e da xenofobia, do fundamentalismo e do conservadorismo sob a égide das ideologias de extrema direita e da ascensão de líderes políticos de nuances totalitárias que governam sob uma forma peculiar de ditadura neoliberal, ignorando os direitos humanos mais básicos. Assim, a certeza de que povos distintos e singulares extrapolam e controlam territórios nacionais bem definidos tem sido decisivamente abalada pela fluidez global de riquezas, armas, povos e, principalmente, imagens. Nesse cenário buscamos, a partir do cenário específico de fluxo migracional em Vitória, Espírito Santo/Brasil, relatar experiências de refugiados que vivem na cidade, além de evidenciar o processo de realização do documentário Refúgio (2019), curta metragem realizado por nós, autores deste texto, e que foca sua narrativa em questões como o encontro de diferentes culturas e a construção do pertencimento, da identidade e da fé de seus sujeitos protagonistas, que vivem longe de suas raízes originais. O filme foi realizado de maneira independente, sem recursos advindos de editais da cultura e/ou leis de incentivo.
Gabriela Maruno, USP – REPRESENTAÇÕES DA SOCIEDADE DO CANSAÇO EM A MOÇA DO CALENDÁRIO, DE HELENA IGNEZ
RESUMO: Os filmes dirigidos por Helena Ignez se constituem como um conjunto cinematográfico contemporâneo de relevância própria. Seu filme mais recente, A Moça do Calendário, é uma fábula anti-capitalista, definida pela diretora como uma obra feita para descolonizar os pensamentos inspirada no livro Sociedade do cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han (2018). É por meio da relação de exploração do personagem central do filme, o mecânico-dançarino Inácio, que Helena materializa o conceito de violência neuronal, caracterizada pelo excesso de positividade advinda dos discursos motivacionais que culminam em um esgotamento psíquico-neural coletivo (uma sociedade do cansaço). Para Han (2018), vivemos na era da auto-exploração e do alto desempenho, mais eficazes que a exploração pelo outro, já que são acompanhadas por um sentimento de liberdade e auto-regulação. Analisaremos como A Moça do Calendário se relaciona com a temática da sociologia do trabalho, envolta em uma homenagem poética-visual à cidade de São Paulo.
Wilq Vicente, UFABC – VÍDEO POPULAR NA AMÉRICA LATINA: NOTAS SOBRE A PRODUÇÃO RECENTE NA ARGENTINA E NO BRASIL
RESUMO: Desde os anos 2000 constatamos uma crescente popularização da prática do chamado vídeo popular ou “vídeo processo”, como variante em alguns países da América Latina. Impulsionado pelo acesso aos mecanismos de produção –equipamentos digitais e recursos, pelos contornos atuais dos movimentos sociais e culturais, um contexto favorável à descentralização dos processos de difusão, bem como um pequeno conjunto disperso de iniciativas públicas e da sociedade civil, esse crescimento do uso do vídeo traz consigo uma nova agenda de demandas para o setor cultural e político. Essas novas ações surgem sobretudo em comunidades populares dos grandes centros urbanos que lutam pela ampliação de sua representatividade. Há relatos de grupos e coletivos espalhados em diversos países da América Latina. Quais os contornos desta produção? A análise de experiências de grupos do Brasil e Argentina poderá iluminar aspectos importantes das transformações da produção cultural, popular e audiovisual nas últimas décadas na América Latina.
AUDIOVISUAL, ESTÉTICA E POLÍTICA
14/08/2019
14:00 – 16:00
SALA Lupe Cotrim
Alan Bernagozzi da Silva, UAM – AMBIENTE, EXTENSÃO E INTEGRALIDADE: A TECNOLOGIA COMO FORMA DE CONTROLE EM WHITE BEAR, SHUT UP AND DANCE E MEN AGAINST FIRE DA SÉRIE BLACK MIRROR
RESUMO: O objetivo deste artigo é de analisar a tecnologia como forma de controle em três episódios da série Black Mirror, “White Bear” e a sociedade disciplinar de Michel Foucault, “Shut Up and Dance” com os meios de comunicação como extensões do homem de Marshall McLuhan e “Men Against Fire” e as perspectivas de Gilles Deleuze com sua sociedade de controle, onde se busca entender a construção social da série tendo em vista uma melhor compreensão dos mecanismos de controle apresentados e as diversas formas de manipulação individual e coletiva resultantes da relação do sujeito com a tecnologia.
Pedro Miguel Camargo da Cunha Rêgo, UNIFESP – CINEMA E “IDEOLOGIA” A PARTIR DOS ESCRITOS DE SIEGFRIED KRACAUER E PIERRE SORLIN
RESUMO: Proponho discutir a relação entre o cinema e a noção de “ideologia” partir de escritos de Siegfried Kracauer e Pierre Sorlin. Ambos advogam que o visionamento e a abordagem comparativa de filmes permitem ver dimensões da sociedade que, de outro modo, permaneceriam ocultas. Contudo, os seus diferentes pressupostos epistemológicos que orientam suas investigações as impulsionam em direções divergentes. Pretendo, portanto, lançar uma luz sobre tais pressupostos e indicar as consequências na metodologia desenvolvida por cada um desses autores.
Ana Daniela de Souza GILLONE - IMAGINAÇÃO ANDINA ESTÉTICA E POLÍTICA DOS FILMES MADEINUSA E LA TETA ASUSTADA
RESUMO: Este trabalho propõe abordagens à imaginação andina e às questões políticas e estéticas das produções Madeinusa (2005) e La teta asustada (2009), ambas dirigidas pela cineasta peruana Claudia Llosa. Parte-se da perspectiva crítica das narrativas e das caracterizações das personagens mulheres para a análise do imaginário andino peruano diante do conflito armado (1980-2000) e da religião colonizadora, cristã. Os precedentes de acontecimentos políticos e esse imaginário, construídos com recursos narrativos que recorrem ao realismo mágico e à estética barroca, ampliam o contexto de estudos sobre a condição da marginalização das mulheres andinas e de alguns temas tabus, trabalhados nos filmes, tais como o incesto, estupro e dominação patriarcal.
Cristina Alvares Beskow - O espectador participante no Nuevo Cine Latinoamericano
RESUMO: O filme interessado no espectador participante se propõe a quebrar o feitiço do cinema-espetáculo, aproximando-o da realidade e de suas faltas, causando desconforto, insatisfação, inconformismo. Alguns filmes exibidos em festivais do Nuevo Cine Latinoamericano foram produzidos com esta intenção, como La hora de los hornos (Grupo Cine Liberación/ Fernando Solanas e Octavio Getino, 1968), que convoca o espectador, como sujeito histórico, a dar continuidade ao filme em seu fora-de-campo. A partir da análise de alguns destes recursos discursivos, será realizada uma reflexão sobre o espectador participante no processo de produção fílmica.
CINEMA, ECONOMIA E POLÍTICA CULTURAL
14/08/2019
14:00 - 16:30
Sala Aprendizado eletrônico – ECA
Aryana Agustavo-Silva, USP – FREQUÊNCIA DO PÚBLICO NO CINEMA INDEPENDENTE BRASILEIRO – VARIÁVEIS POSITIVAS
RESUMO: O presente trabalho se propõe a estudar as variáveis que atuam no interesse do público de cinema independente brasileiro, considerando o cinema independente a partir de dois vieses: em relação aos fatores econômico-financeiros, que não possui grande orçamento ou investimento de grandes estúdios e em relação à estética, distante das grandes produções e com abordagem de temas pouco comuns. Busca-se entender a evolução histórica da produção de filmes independentes e o local de exibição destes para que seja possível o estudo sobre a frequência do público. A fim de alcançar o objetivo proposto o estudo foi desenvolvido em três partes: 1) revisão da literatura, 2) entrevistas com especialistas do setor e 3) pesquisa de campo direcionado ao público. A pesquisa apresentou relevância dos seguintes fatores para a frequência: estética dos filmes; características pessoais do público e características do espaço de exibição - a proximidade do público, oportunidade e o hábito de frequentar o espaço.
Teresa Noll Trindade, UNICAMP – UMA REFORMA NO SISTEMA FRANCÊS DE FOMENTO AO DOCUMENTÁRIO AUTORAL
RESUMO: Esta comunicação busca apresentar uma reforma realizada no sistema francês de fomento em 2014. Chamada Reforma da Cosip (Conta de Apoio às Indústrias de Programas), ela focou em direcionar melhor os auxílios a documentários “de criação” (com características autorais) realizados para serem difundidos na televisão. Esta mudança na legislação foi proposta depois que o Ministério da Cultura encomendou em 2011 um estudo sobre as condições de produção, financiamento e difusão do documentário de criação francês, e constatou que este vinha sendo pouco fomentado e que predominavam na televisão filmes mais semelhantes a reportagens do que a documentários autorais. Vendo que boa parte deste recurso público estava sendo direcionada a produções televisivas submetidas ao interesse da programação de cada canal, o Centro Nacional do Cinema e da Imagem Animada (CNC), articulado com organizações profissionais do setor audiovisual, realizou uma reforma para priorizar o documentário de criação.
Luciana de Paula Freitas, UNILA – DESCOLONIZAÇÃO DE E ATRAV;ES DAS TELAS: OS FESTIVAIS DE CINEMA INDÍGENA EM ABYA YALA
RESUMO: O número de mostras e festivais de cinema voltados exclusivamente às questões indígenas têm crescido na América Latina nos últimos dez anos. Neste trabalho, nos dedicaremos a analisar três dos festivais expoentes, a saber: Cine Kurumin, no Brasil; Daupará, na Colômbia; e Ficwallmapu, no Chile, a fim de compreender como se dão esses eventos e a maneira que atuam na descolonização das telas de cinema e na construção de um paradigma outro.
Gabriela Andrietta, UNESP – UMA ANÁLISE DOS INVESTIMENTOS REALIZADOS PELO PROGRAMA “CINEMA PERTO DE VOCÊ” NO EIXO DA DIGITALIZAÇÃO DAS SALAS DE CINEMA
RESUMO: Este trabalho busca realizar um balanço dos investimentos no programa “Cinema perto de você”, o maior programa voltado para o setor de exibição de cinema. O programa, implantado em 2014, utilizou os recursos do Fundo Setorial do Audiovisual, e foi operado pelo BNDES. Foram investidos R$ 120.000.000,00 na forma de empréstimo subsidiado e foi criado um fundo perdido de R$ 2.700.000,00 para os pequenos exibidores. Este programa foi uma tentativa da Ancine de promover a diversidade de conteúdos, reduzir os desequilíbrios na distribuição e contribuir para uma expansão sustentável do parque exibidor. No entanto, muitas dessas expectativas não se concretizaram. Assim, busco entender se teria sido possível a exigência de uma contrapartida em virtude do valor investido e qual teria sido a melhor forma de solicitar um compromisso dos exibidores com uma programação mais diversa.
Francieli Rebelatto e Adolfo del Valle – A CINEMATOGRAFIA DO PARAGUAI E A ORGANIZAÇÃO DO SETOR AUDIOVISUAL PARA APROVAÇÃO DA “LEY DE CINE”
RESUMO: Em 2018 foi aprovada no Congresso Federal do Paraguai a Lei de Fomento ao Audiovisual N°6.106, também conhecida como “Ley de Cine”, que contou com uma longa caminhada de mobilização de profissionais, espaços e entidades que estiveram durante muitos anos organizados na Multisetorial del Audiovisual. Por isso, neste trabalho - ainda em fase inicial-, buscamos apontar alguns atores (entidades, grupos, universidades, etc.) que estiveram à frente da construção da Lei Nacional, entendendo como pode se dar a relação entre o percurso histórico da construção de políticas públicas com a própria cinematografia do país, trazendo à tona o caso dos filmes Hamaca Paraguaya, Siete Cajas e Las Heredas, que são importantes marcos da circulação e inserção da cinematografia paraguaia no mundo.
CINEMA, TELEVISÃO E NOVAS MÍDIAS
14/08/2019
14:00 às 16:30
Sala 202, ECA
Beatriz Lima Santos, UFF – IRMÃO DO JOREL: QUESTÕES SOBRE A REPRESENTAÇÃO NEGRA NO AUDIOVISUAL INFANTO JUVENIL BRASILEIRO
RESUMO: Este artigo se propõe a fazer uma análise da série brasileira “Irmão do Jorel” sob a ótica da representação negra. Para isso, a primeira parte se baseia nos personagens em geral e a segunda foca em um episódio específico. A escolha desta obra como objeto se dá justamente por não se tratar de um programa educativo de cunho racial. A proposta é analisar a representação negra em conteúdos nacionais que se propõem universais. O cenário dos últimos anos mostra-se muito propício para o surgimento de narrativas brasileiras. Com o fortalecimento do movimento social negro e o aquecimento do mercado de produção audiovisual, oboomde séries televisivas para crianças e adolescentes vem cumprir uma lacuna da historiografia nacional. Assim, é também a oportunidade de equilibrar a balança da diversidade étnico-racial. Até então, o público infanto-juvenil praticamente só recebia conteúdo estrangeiro, com pouquíssima diversidade e que de qualquer forma não representava as suas próprias realidades.
Heyki Yoshiaki Awagakubo e Rogério Ferraraz, UAM – A HIBRIDIZAÇÃO NO ÁUDIO TRANSFORMANDO PERSONAGENS E HISTÓRIAS: O CASO DA MINISSÉRIE TIM MAIA - VALE O QUE VIER
RESUMO: Este trabalho propõe uma análise que se dedica a evidenciar as transformações de sentido e significado na minissérie Tim Maia – Vale o que vier, exibida na Rede Globo de Televisão em 2015, por meio de recursos como a hibridização e a transmutação. A obra é uma reedição do filme Tim Maia (2014), de Mauro Lima. No trabalho de reconstrução da narrativa para o formato televisivo, a forma ficcional se apropriou de recursos do Cinema Documentário e logrou à edição um novo discurso ao enredo, concebendo novas linhas interpretativas nesta narrativa, especialmente no que tange à figura do cantor Roberto Carlos.
Aline Silva de Senzi, USP – ANALISE DE REFLEXÃO DO DOCUMENTÁRIO FALCÃO, MENINOS DO TRÁFICO: DO CHOQUE AO INVISÍVEL
RESUMO: O documentário Falcão, meninos do tráfico (MV Bill e Celso Athayde, 2006) se apresenta como um caso interessante para se pensar o ponto de vista da recepção e crítica. A produção foi considerada um marco televisivo no momento de sua transmissão no Fantástico, programa dominical da Rede Globo de televisão que atingia, na época, em torno de 24 milhões de espectadores a cada transmissão. A exibição na Rede Globo proporcionou a Falcão um alcance incomum para o gênero, sendo objeto de inúmeras matérias e artigos jornalísticos antes e depois de sua exibição. O documentário gerou ainda um amplo debate no campo da mídia e crítica em torno das questões de visibilidade e políticas de representação do mundo histórico. A revisão dessas discussões pode ser vista como uma ferramenta importante para fazer uma análise diacrônica e histórica materialista de Falcão e da produção audiovisual brasileira contemporânea, sobretudo aquela que apresenta a violência e as periferias urbanas.
Laura Loguercio Cánepa e Genio Nascimento, UAM – A SÉRIE INCRÍVEL! FANTÁSTICO! EXTRAORDINÁRIO! E A INTERMEDIALIDADE NO HORROR BRASILEIRO
RESUMO: Este trabalho se propõe a examinar a circulação intermidiática da série Incrivel! Fantástico! Extraordinário!, criada originalmente para o rádio nos anos 1940; incorporada pela imprensa nos anos 1950; adaptada para o cinema e para as revistas em quadrinhos nos anos 1960, e para a televisão nos anos 1980. O objetivo é dar início a uma discussão sobre a produção audiovisual de horror no Brasil relacionada com outros meios de comunicação e expressões artísticas, como o rádio, a literatura, os quadrinhos etc.
Lucas Martins Néia, USP – A PARTIR DOS FLUXOS TRANSNACIONAIS DA FICÇÃO AUDIOVISUAL NA AMÉRICA LATINA
RESUMO: O trabalho analisa os atuais fluxos transnacionais da ficção audiovisual na América Latina de forma a refletir sobre as interações entre o melodrama e a condição pós-moderna nesse espaço geocultural. Para isso, partimos de estudos que problematizam as relações entre melodrama e modernidade a partir de produtos audiovisuais – tais como Singer (2001), Martín-Barbero (2001) e Lopes (2003). Ao identificarmos as especificidades da atuação do melodrama no imaginário latino-americano – no qual ele ainda é peça-chave no processo de integração sentimental (MARTÍN-BARBERO; REY, 2001) do território –, tomamos a noção de “pós-moderno” como resultado dos problemas e fenômenos do “moderno” (CHARNEY; SCHWARTZ, 2004). Observamos, por fim, que as recentes narrativas melodramáticas de sucesso parecem reverberar a ascensão do conservadorismo na região, denotando não só a falência do ideal de modernidade, mas como a pós-modernidade pode apontar para o retrocesso.
PALESTRANTES
16h-18h30
SALA LUPE COTRIM
Denise Tavares UFF
Palestra: Blak Mama: Um jogo onírico e experimental “pautado” pela cultura popular do Equador
Fabio Camarneiro, UFES
Palestra: A construção do espaço no cinema indígena: fronteiras entre aldeia e cidade
Silvana Flores, UBA
Palestra: El rol del produtor en el abordaje transnacional del cine: un estúdio de caso mexicano
Prof. Dr. Ignacio del Valle Dávila
Palestra: Un héroe revisado: la representación de José de San Martín en el Filme Revolución: el cruce de los Andes (2010)
19:00
SALA LUPE COTRIM
Exibição:
1. curta-metragem de Ana Carolina
2. curta-metragem de Cristina Amaral
3. curta-metragem de Helena Ignez
Homenagem a Ana Carolina, Cristina Amaral e Helena Ignez